sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Reflexões sobre Educação à Distância: O Fórum


Texto de Pablo de Assis encontrado em http://pablo.deassis.net.br/2013/04/reflexoes-sobre-educacao-a-distancia-o-forum/



Há anos trabalho como tutor de EAD e à anos participo de fóruns online dos mais diversos tipos. Uma coisa que percebo quando comparo o uso dos fóruns em EAD e os outros fóruns é que os outros fóruns são muito mais ricos e vivos do que os de EAD. Parece que os fóruns em EAD se limitam a um espaço onde os alunos postam suas opiniões, enquanto nos outros fóruns seus membros realmente criam novas ideias!
Lembro-me de várias discussões no finado Orkut onde realmente íamos muito além da postagem inicial e realmente construíamos coisas novas. Muitas dúvidas foram esclarecidas e muitas ideias novas nasceram por lá. E isso é totalmente capaz na EAD! Mas por que isso não acontece? Bem, eu tenho algumas hipóteses:
Primeiro, os professores não estão preparados para o EAD. Na Educação tradicional, o professor é o detentor de conhecimento e avaliações são feitas para saber se o aluno captou o conhecimento transmitido pelo professor. Os fóruns do EAD acabam refletindo isso, servindo como um espaço para testar o conhecimento do aluno ou para simplesmente tirar dúvidas, não para construir novos saberes. São muitas vezes os professores que iniciam os fóruns, esperando que os alunos simplesmente postem opiniões ou as respostas a atividades – criando outra barbaridade: o Fórum Avaliativo! O fórum deve ser um espaço de discussão, de criação de novas ideias, de exploração e, principalmente de convívio, não um espaço disciplinar/avaliativo.
http://revistaforum.com.br/blog/tag/grecia-antiga/

Isso me faz pensar nos primórdios dos fóruns, séculos antes da internet. O Fórum era um espaço nas cidades romanas ao redor de onde se construíam os prédios públicos administrativos e principais centros comerciais. Na Grécia, esse espaço era conhecido como ágora. E tais espaços eram onde as pessoas iam para se manterem informadas, para aprenderem, para trocarem informações e, principalmente, para praticarem a cidadania. Quem queria ser um cidadão, participava dos fóruns.
Quando os fóruns passaram a existir na internet, a ideia era muito semelhante. As pessoas se reuniriam para divulgarem informações e trocarem experiências. Nem sempre tais fóruns eram proveitosos para algo, mas sempre serviam para o crescimento de seus membros – nem que seja pelo exemplo do que não se fazer.
Agora, no EAD, isso não acontece, talvez porque o professor direciona o espaço do fórum para o que ele tradicionalmente sabe fazer: transmitir conhecimento e avaliar. Não se fomenta discussão, dúvidas e experiências lá, somente se você sabe ou não. O que acaba trazendo questões inusitadas, como colegas copiando respostas das questões para postarem, como se participar dos fóruns fosse uma obrigação – e acertar fosse requisito.
O que me leva para a segunda hipótese: a educação à distância não está pronta para a EAD. Pode parecer inusitado, mas é a mais pura verdade! O que temos hoje é a simples transposição do modelo educacional formal para ambientes virtuais. Mas no ambiente virtual, a educação não precisa replicar os modelos tradicionais offline. E o mais engraçado é que diversos estudiosos estão afirmando que os modelos tradicionais já estão falidos há tempos, e por que estamos insistindo em replicá-los nos novos ambientes de aprendizado?
http://professordigital.wordpress.com/tag/lousa-digital/
E o mais interessante é que os fóruns ilustram isso muito bem! O modelo tradicional implica em disciplinas com ementas e conteúdos a serem trabalhados dentro de um cronograma pré-estabelecido. Os fóruns replicam exatamente isso. Agora, se me surge uma questão pertinente ao tema mas fora do cronograma, provavelmente não terei com quem discutir. Ao mesmo tempo, se dentro dessa disciplina me surgir uma questão que não faz parte da discussão do momento, também não terei como aprofundá-la. O engessamento da estrutura tradicional impede que o fórum possa crescer de forma apropriada.
Ao mesmo tempo, existe a necessidade forma de avaliação e é colocado ao aluno que ele será avaliado por sua participação no fórum. Quando colocamos uma questão para ser discutida, ao invés de essa discussão crescer, cada aluno publica a sua versão da resposta. Então temos uma infindável série de respostas repetitivas, onde cada um diz o que acha, sem querer dar continuidade à opinião do colega. Em fóruns convencionais online, quem quer participar geralmente lê todas as opiniões, vê o que já foi dito e contribui com informações novas ou com novos questionamentos, mas raramente irá simplesmente replicar uma resposta – sendo que ela já foi oferecida. Isso faz com que o trabalho do tutor de EAD – um personagem chave nessa história – seja chato e sem sentido, o que me leva à terceira hipótese: os tutores não estão preparados para lidar com os fóruns em EAD.
O tutor é um professor responsável por acompanhar o andamento da disciplina ofertada à distância. Como geralmente um professor organiza o conteúdo e as aulas para milhares de alunos, são escolhidos alguns tutores para cuidar de turmas menores, sejam elas de disciplinas específicas ou de localidades específicas. Assim, um aluno no meio de vários, pode ter suas dúvidas e questões sanadas mais pessoalmente através do tutor – que em sua maioria é tão preparado quanto o professor conteudista.
Acontece que muitas vezes esse tutor não tem preparo nem técnico nem teórico para o EAD. Ele muitas vezes só é colocado como um monitor de fóruns, mas não sabe esclarecer as dúvidas ou muitas vezes não consegue conversar com o conteudista para saber o direcionamento das aulas, até mesmo para saber se o que está planejando com os alunos faz sentido ou não dentro do antamento geral das aulas. Nesse sentido, o papel do tutor fica reduzido e muitas instituições desmerecem tal trabalho pagando um professor qualificado como um técnico, ignorando sua capacitação prévia, ou então contratando profissionais técnicos para realizar um trabalho que necessita de capacitação maior. E, diante disso, o aluno fica perdido e o fórum fica morto.
E se juntarmos todas essas hipóteses em uma única realidade? Acredito que esse é o perfil atual da Educação à Distância: um espaço online de vivência de uma educação decadente offline, onde profissionais mal capacitados e pouco remunerados simplesmente reproduzem um modelo falido para alunos desmotivados supostamente aprenderem.
É claro que nem todo projeto educacional à distância é assim. Existem programas sérios que realmente querem investir em inovações. Mas, infelizmente, isso é a exceção, ao menos no Brasil. Mas espero que por pouco tempo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário